Levantou-se da mesa logo após terminar o café. Agradeceu a cadeira por tê-lo suportado tanto tempo, agradeceu a mesa por manter seu café em um lugar seguro e em seguida agradeceu aos talhares que apeteceram sua refeição.
Em seguida foi ao quarto, no caminho, agradeceu as demais coisas em tinha tocado e usado, agradeceu também as coisas que não tinha usado, fez isso simplesmente para que elas não se sentissem ofendidas. Quando chegou ao quarto, desfez a cama, e a refez, pela quinta vez no mesmo dia e voltou a agradecê-la. Tirou seus pijamas, os deitou delicadamente sobre a cama (mais uma vez agradeceu a cama por aceitar tal peso) então se dirigiu ao banheiro para o seu banho matutino, entrou no chuveiro, agradeceu a tudo, tomou seu banho, porém saiu meio atordoado pelo fato de ter derrubado o sabonete no chão, estava achando que nunca mais iria ser desculpado.
Enfim saiu do banho, enroulou-se na toalha, enxugou-se, como de custume fez isso com a maior delicadeza para não ferir os sentimentos da toalha, após estar seco, pendurou a toalha delicadamente em um canto para que ela pudesse secar, vestiu-se (tomando o maior cuidado para não desalinhar as roupas, nem fazer com que elas ficassem amassadas) recolheu o pacote que havia em cima do seu criado mudo e tomou seu rumo para o trabalho, que por grande comodidade ficava do outro lado da rua, ao sair agradeceu ao portão, a calçada, a rua, etc. Enfim, agradeceu tudo aquilo que tocava.
Ao chegar no trabalho tomou seu primeiro café, agradeceu aos copos e a cafeteira, porém intimamente refletiu que poderia ter colocado mais açúcar, mas como já havia se dirigido ao açucareiro, achou melhor não dizer mais nada. Então se encaminhou a sua mesa de trabalho, ouviu alguns comentários a seu respeito e no final ignorou e seguiu seu caminho.
Já sentado, começou a refletir se o que iria fazer naquele dia seria o suficiente para mostrar a todos a sua posição. Ligou seu computador, esperou, esperou, agradeceu ao Windows por ter funcionado suficientemente bem. Fez metade das suas coisas do dia e então deixou as preocupações de lado, levantou-se, agradeceu mais uma vez sua sala, por tê-lo aguentado retirou do bolso o pacote que havia pegado em casa e seguiu em direção a sala da chefia, onde hoje seria homenageado como melhor funcionário do mês, entrou na sala, todos a sua volta, dirigiu algumas palavras a porta, e então encarou a realidade que tanto o assustava, muitas pessoas ao seu redor, foi então que sacou o pequeno embrulho que havia trazido de casa, desembrulhou a pequena metralhadora que havia comprado dias antes, disse algumas gentis palavras a ela e então enquanto todos o olhavam espantados, descarregou-a em todos, no momento não sabia se tinha matado a todos, mas o extâse que invadia sua alma o encheu de orgulho e então bradou em boa voz todas as suas vontades, todos os seus desejos, gritou suas maiores vontades, seus maiores medos, suas alegrias e tristezas, então deitou-se no chão e morreu, junto com todas as outras pessoas.
Alguns dizem que morreu por não ter mais nada para fazer e que já havia vivido o suficiente.
Um comentário:
trágico! sua deprê anda séria hoje...
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