Gostariam de olhar o cardápio? – disse o garçom. – Ou gostariam de ser apresentados ao Prato do Dia?
(...)
Um imenso animal leiteiro aproximou-se da mesa de Zaphod Beeblebrox. Era um enorme e gordo quadrúpede do tipo bovino, com grande olhos protuberantes, chifres pequenos e um sorriso nos lábios que era quase simpático.
- Boa noite – abaixou-se e sentou-se pesadamente sobre suas ancas – sou o Prato do Dia. Posso sugerir-lhes algumas partes do meu corpo? – Grunhiu um pouco, remexeu seus quartos traseiros buscando uma posição mais confortável e olhou pacificamente para eles.
(...)
- Alguma parte do meu ombro, talvez? – sugeriu o animal. – Um guisado com molho de vinho branco?
(...)
- Você quer dizer que este animal realmente quer que a gente o coma? – cochichou Trillian para Ford.
- Eu? – disse Ford com o olhar vidrado. – Eu não quero dizer nada.
- Isso é absolutamente horrível- exclamou Arthur -, a coisa mais repugnante que já ouvi.
- Qual o problema, terráqueo? – disse Zaphod, que agora observava atentamente o traseiro do animal.
- Eu simplesmente não quero comer um animal que está na minha frente se oferecendo para ser morto – disse Arthur – É cruel!
- Melhor do que comer um animal que não deseja ser comido – disse Zaphod.
- Não é essa a questão – protestou Arthur. Depois pensou um pouco mais a respeito. – Está bem – disse –, talvez essa seja a questão. Não me importa, não vou pensar nisso agora. Eu só... ahn...
O universo enfurecia-se em espasmos mortais.
- Acho que vou pedir uma salada – murmurou.
- Posso sugerir que o senhor pense na hipótese de comer meu fígado? Deve estar saboroso e macio agora, eu mesmo tenho me mantido em alimentação forçada há meses.
- Uma salada verde – disse Arthur, decididamente.
- Uma salada? – disse o animal, lançando um olhar de recriminação a ele.
- Você vai me dizer – disse Arthur – que eu não deveria comer uma salada?
- Bem – disse o animal –, conheço muitos legumes que têm um ponto de vista muito forte a esse respeito. E é por isso, aliás, que por fim decidiram resolver de uma vez por todas essa questão complexa e criaram um animal que realmente quisesse ser comido e que fosse capaz de dizê-lo em alto e bom-som. Aqui estou eu!
Conseguiu inclinar-se ligeiramente, fazendo uma leve saudação.
- Um copo d’água, por favor – disse Arthur.
- Olha – disse Zaphod –, nós queremos comer, não queremos uma discussão. Quatro filés mal passados, e depressa. Faz 576 bilhões de anos que não comemos.
O animal levantou-se. Deu um grunhido brando.
- Uma escolha muito acertada, senhor, se me permite. Muito bem – disse –, agora é só sair e me matar.
Voltou-se para Arthur e deu uma piscadela amigável.
- Não se preocupe, senhor, farei isso com bastante humanidade.
Encaminhou-se gingando para a cozinha.
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